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sábado, 17 de maio de 2014

O vento leva com ele tempos passados

            
   Hoje resolvi olhar tudo aquilo que passou. Passou no tempo, mas não para mim. Ainda permanece aqui, tão quieto e sossegado. Vi novamente aquela foto com um sorriso largo com meus mais puros nove anos de idade. Vi aquela publicação em uma rede social de mim mesma manifestando minha fúria contra o amor. Quinze anos e já sofria por amor. Devia ser proibido sentir isso nesta idade, não é justo ter o coração partido tão jovem. Não é justo ter o coração partido em qualquer idade.
   Me deparei com meu diário antigo, já com as folhas amareladas e todo empoeirado. Abri bem no meio — pois já sabia o que encontraria ali — na folha que se destacava por ser a única solta. Junto com tantas palavras, datas e recordações, bem no topo colado — já meio rasurada  — uma foto sua. Comecei a folhear cada vez mais depressa e só tinha textos sobre você. Era sobre você, sobre nós, em cada folha e assim terminou aquele diário.

   E eu percebi que depois que você chegou; e então  marcou o meio do meu diário e o inteiro da minha vida, toda a minha escrita se modificou e se modelou inteiramente em você. E isso é péssimo. Péssimo porque só sei escrever sobre isso. Eu não consigo escrever um único texto sem pensar em você. Se eu não pensar em você, vai ficar apenas um vazio na tela, na folha apenas as linhas e a mente tenta procurar algo novo pra contar. Mas é impossível. As coisas parecem que perdem o sentido quando procuro escrever sobre algo diferente. Percebi que o sentido se perdeu quando me dei conta de tão distante você já está. Foi se distanciando cada vez mais e eu nem reparei, estava ocupada demais colocando  você em todos os textos que eu escrevia. Pobre menina, que sufocava as palavras durante o dia e as deixava voar e pousar em textos durante a noite. Pobre sentimento, que como palavras, foram jogados ao vento e perdidos no tempo. Fiquei me martirizando em todos os textos antigos e agora re-leio e sinto o mesmo. Quero parar de ser uma céptica — e olha que isso é para ser bom nos dias de hoje —  duvidar de tudo me causa problemas. 

   Te por nos papéis foi o jeito mais fácil que encontrei de manter vivo o que havia morrido à tanto tempo. Te descrever em tudo foi a forma menos dolorosa de sentir tua ausência, e tornei tua presença frequente à cada palavra.

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